Noz pecã: cultura avança nas lavouras e no mercado

VALE DO TAQUARI

Noz pecã: cultura avança nas lavouras e no mercado

Pecanicultura envolve mais de 1,5 mil famílias gaúchas e safra deve chegar a 5 mil toneladas. Símbolo da atividade no país, Anta Gorda concentra 400 produtores e prevê colher quase um quinto do total no RS

Noz pecã: cultura avança nas lavouras e no mercado
Pós colheita, nozes am por limpeza, secagem e ficam armazenadas por até um ano. (Foto: Daniely Schwambach)
Vale do Taquari

A colheita da safra de noz pecã – também escrita pecan, se encaminha para a reta final e deve somar cinco mil toneladas no Rio Grande do Sul. O solo gaúcho reúne mais de 80% de toda produção nacional, envolve quase sete mil hectares e 1,5 mil produtores. Cultura muito presente no Vale do Taquari, tem como referência o município de Anta Gorda, berço da pecanicultura e reconhecido como capital nacional.

As primeiras mudas de nogueiras chegaram nas mãos do então prefeito, Arminho Miotto, vindas dos Estados Unidos na década de 70. A atividade se expandiu rápido e já em 1975 ocorreu a primeira Festa da Noz-Pecã. Nos primeiros anos a cultura enfrentou dificuldades e diversos produtores desistiram diante dos resultados aquém do esperado.

Um dos mais persistentes, que acompanhou a introdução da cultura desde o princípio, foi Luizinho Pitol. Buscou conhecimento, variedades propícias para a região e se aperfeiçoou na enxertia – técnica que anexa duas plantas e transforma uma nova mais resistente e produtiva. Os bons resultados ajudaram a estimular vizinhos e amigos e a atividade prosperou.

A família abraçou a causa e segue desenvolvendo a cultura na região. Aos 84 anos, Luizinho faz questão de acompanhar de perto os pomares de nogueiras, as colheitas e a gestão da empresa, coordenada pelo filho Lenio, 61 anos.

Vê ainda a sucessão familiar ganhando força com a participação das netas Cíntia Cristina, 35 anos, do financeiro e istrativo; Victória Cristina, 27 anos, engenheira agrônoma e atuante no istrativo e do neto Luiz Afonso, 25 anos, responsável pelos maquinários, armazenamento e e na parte istrativa.

Estão em cultivo cerca de 1,8 mil nogueiras e a estimativa é colher 50 toneladas. A colheita iniciou em abril e deve se estender por, pelo menos, mais uma semana. “As chuvas recentes dificultaram o processo de colheita, tendo em vista que quase todo ele é mecanizado”, observa Victória. Além da produção própria, a família trabalha com produtores parceiros no Estado e também em Santa Catarina e no Paraná.

Mecanização agiliza colheita e permite avanço da cultura. Família Pitol estima colher 50 toneladas em 1,8 mil árvores. (Foto: GRUPO PITOL)

De acordo com Victória, a colheita é encaminhada para os galpões da propriedade onde ocorre a pré-limpeza por meio de maquinário específico. O processo retira galhos, folhas e demais impurezas até restar somente a noz. Em seguida, vai para um equipamento que classifica por tamanho, de um a quatro. Então segue para três secadores para atingir a umidade ideal e, por fim, as nozes são ensacadas e armazenadas na câmara fria onde podem permanecer por até um ano.

Menos áreas, mais produtores

Apesar do título de capital nacional, Anta Gorda perde no volume e na área de produção para Cachoeira do Sul. São 620 hectares frente aos 1,3 mil hectares destinados às nogueiras no município do Vale do Jacuí, onde, inclusive, está situado o maior produtor da América Latina com 700 hectares.

De acordo com o técnico em agropecuária da Emater/RS-Ascar de Anta Gorda, Fabiano Zenere, 49 anos, muito disto se deve pelas condições geográficas e tamanho de área dos municípios. Como comparativo, Cachoeira do Sul tem quase 16 vezes mais território. “Além disto, a inclinação das propriedades aqui é muito mais elevada”, observa.

Apesar do número inferior de hectares, Anta Gorda tem a maior quantidade de famílias envolvidas na pecanicultura. Segundo a Emater são 400 produtores e a estimativa de colheita desta safra é de 900 toneladas – cerca de um quinto do total colhido no RS.

Anta Gorda contabiliza 620 hectares destinados à cultura, somando cerca de 60 mil árvores. Destes, 520 hectares estão produzindo. O restante ainda está em desenvolvimento e não adentra no perfil de produção comercial. “São plantas mais novas e devemos observar que a produtividade começa aos cinco anos, mas com volumes inexpressivos. Na maioria dos casos é a partir do décimo ano.”

A grande valorização da noz pecã nos últimos anos, atrelada a demanda crescente, têm estimulado a ampliação das áreas e a adesão de novos produtores. Segundo Zenere, até pouco tempo as plantações eram feitas de forma aleatória nas propriedades, mas com o desenvolvimento da atividade começaram a ser formados pomares comerciais, com distanciamentos adequados.

Dentre as formas que o município encontrou para estimular produtores, foi a aquisição de um vibrador de tronco (shake) para a colheita mecanizada. O equipamento é acoplado a um trator da prefeitura e usado, por meio do pagamento de hora máquina, para retirar as nozes das árvores.

Em expansão

O uso da noz pecã na indústria tem crescido de forma exponencial, o que garante a valorização da cultura e a manutenção dos preços pagos aos pecanicultores. Além disto, permite a diversificação econômica das empresas de beneficiamento. Na Pitol, as nozes armazenadas na câmara fria deixaram de ir apenas para o consumo in natura. Um novo portfólio reúne cerca de 20 itens, como gourmets, cosméticos, graspa, chás e óleo.

De acordo com Victória, as nozes in natura são vendidas inteiras, quebradas, moídas ou a granel. Na linha mais gourmet, são cobertas com chocolates, doces, doces com canela e café. Uma parte da casca e do óleo que a empresa beneficia vai para a área de cosméticos, onde entre vários itens, são produzidos cremes corporais, faciais, difusores de ambientes e sabonetes artesanais.

Dentro do ciclo, mas fora da indústria, desponta o turismo. Investimentos na propriedade permitem aos turistas conhecerem toda a cadeia da noz pecã.

Benefícios à saúde

  • Como fruto oleaginoso, a noz pecã apresenta cerca de 75% de óleos diversos em sua composição, chamados de ácidos graxos;
  • Os dois principais, oleico e linoleico, são redutores do mau colesterol no organismo. Por isso, estudos indicam que o consumo das nozes pode diminuir em até pela metade os riscos de ataques cardíacos e outros problemas cardiovasculares;
  • Entre as substâncias consideradas nutracêuticas ou funcionais e presentes de forma considerável na noz pecã, estão as vitaminas B e E, os carotenos (reduz a incidência de câncer), fitoestrogênios (auxilia na menopausa) e os minerais magnésio, zinco e selênio (antioxidante);
  • A melhora do funcionamento estomacal e intestinal, do cérebro, dos pulmões, bem como da libido e da fertilidade, também estão entre os benefícios. Sua composição proteica, rica em aminoácidos essenciais, como o triptofano, oferece a possibilidade de substituição parcial da carne, para dietas vegetarianas.

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